Confiando em Deus através das dificuldades – cinco chaves para resiliência e perseverança

Todos enfrentamos dificuldades na vida. O que é único na pandemia de coronavírus é que todos enfrentamos a mesma dificuldade ao mesmo tempo – embora seu efeito sobre cada um de nós seja diferente.

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Mas cada família tem sua própria história de doença – mental e física, crônica ou terminal. Cada família, em algum momento, enfrentará perda de dinheiro, posses, esperanças e sonhos. Luto, fracasso e decepção fazem parte da vida de todos nós em algum momento. E todos nós conhecemos a dor de relacionamentos rompidos, ou solidão e isolamento – seja temporário ou permanente. Além disso, para os cristãos, há a promessa de que, de uma maneira ou de outra, enfrentaremos perseguição (2 Timóteo 3:12).

Pessoas de várias visões e crenças do mundo têm suas explicações para o sofrimento. Para os muçulmanos, é sobre a vontade de Alá – é tudo destino. Para os budistas, isso tem a ver com desejo insatisfeito – está na mente. Para os hindus, é uma vingança para vidas passadas – é tudo karma. E para os ateus é o produto do tempo e do acaso – são apenas moléculas aleatórias.

Mas para os cristãos que acreditam em um Deus que é ao mesmo tempo todo-poderoso, onisciente e amoroso – a questão é frequentemente levantada – por que ele não faz algo a respeito? Certamente, ele deve conhecer e se importar e ser capaz de lidar com isso?

Filósofos e teólogos, ao longo dos tempos, se depararam com essa questão ao conceber ‘teodicéias’ – explicações sobre por que Deus pode permitir o sofrimento.

Em algum momento, esses geralmente cairão na categoria de um dos quatro Fs (Fs seriam das palavras em inglês).

Primeiro, vivemos em um mundo caído (Fallen em inglês) que foi danificado pelo pecado. O rompimento do relacionamento de Deus com os seres humanos (por meio de nossa rebelião e indiferença) também levou ao rompimento de nossos relacionamentos entre si e com o planeta. Guerra, doenças e desastres naturais são esperados em um mundo assim. O mundo inteiro está ‘gemendo’ (Romanos 8:22).

Em seguida vem o efeito do livre arbítrio (Free will em inglês). Deus concedeu aos seres humanos e, de fato, ao próprio diabo, a capacidade de fazer escolhas. Quanto da dificuldade em nosso mundo resulta de pessoas (ou demônios) fazendo más escolhas ou deixando de fazer boas?

Terceiro, precisamos ver dificuldades através dos olhos da (Faith em inglês). Deus tem propósitos mais elevados no sofrimento, que nós, da nossa perspectiva humana limitada, podemos ser incapazes de discernir. O sofrimento produz perseverança e perseverança produz caráter, como o apóstolo Paulo nos lembra (Romanos 5:3-4).

Finalmente, precisamos ver o sofrimento à luz do Futuro (Future em inglês). Deus tem negócios inacabados com este planeta e seus habitantes e sua intenção é criar um novo céu e nova terra onde não haja sofrimento (Apocalipse 21:1-4). Tudo acabará sendo corrigido. Mas ele não tem pressa, pois quer dar às pessoas a chance de recorrer a ele antes que seja tarde demais (2 Pedro 3:9). E a dor e as dificuldades, como C.S. Lewis nos lembra, são seu megafone para um mundo surdo[2].

Mas a Bíblia também é um livro para viajantes da vida, mais do que filósofos de poltrona. Os viajantes fazem perguntas diferentes: Como superar essa próxima colina ou obstáculo? Ou que rota devo seguir nesta bifurcação? Não espere saber as respostas para todos os mistérios da vida e, especialmente, quais são os propósitos de Deus para você pessoalmente através deles.

E assim, esperamos que as Escrituras sejam repletas de conselhos práticos para os viajantes – e é.

O Salmo 13 é um ótimo exemplo, digno de milhares de palavras. Enfrentando problemas? Continue orando (Salmo 13:1-4), confie em seu amor infalível, exulte-se em sua salvação (Salmo 13:5) e cante o louvor do Senhor (Salmo 13:6). Tudo isso são exortações que transformam a vida.

Mas neste post, quero chamar sua atenção para cinco chaves da resiliência e perseverança de um dos meus capítulos favoritos da Bíblia – Hebreus 12. Espero que sejam de grande ajuda para você, assim como para mim quando eu precisar de algo um pouco além. Hebreus 12 é um banquete de instruções práticas – e seu apelo é usar nossa mente para pensar na saída da amargura, do desespero e da autopiedade.

1. Considere os que foram antes (Hebreus 12:1-4).

O capítulo começa com a palavra ‘portanto’, chamando-nos a olhar para o que acabou de ser dito.

Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. (Hebreus 12:1,2 NVI)

Quem é essa grande nuvem de testemunhas? Eles são os heróis da fé, cujos nomes estão listados em Hebreus 11 – Abel, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Gideão, Davi, Samuel e os profetas. Muitos deles conquistaram grandes vitórias – mas nenhum teve uma vida desprovida de sofrimento e luta.

…Alguns foram torturados e recusaram ser libertados… …enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada… …necessitados, afligidos e maltratados. (Hebreus 11:35-39 NVI)

Em comparação, muitos dos nossos próprios fardos empalidecem em insignificância.

Acima de tudo, porém, o autor nos pede que consideremos o próprio Jesus Cristo, que ‘suportou a cruz, desprezando sua vergonha'[3] para ganhar nossa salvação. De fato, ele se submeteu a essa provação pela ‘alegria que lhe foi proposta'[3] – a alegria de nos salvar e de nos vencer por si mesmo.

Jesus, em suas lutas em nosso nome, sempre teve o fim em vista, e foi isso que o encorajou a continuar. Do mesmo modo, precisamos lembrar que nada feito no serviço do Senhor é em vão (1 Coríntios 15:58) e que nossos trabalhos por ele são frutíferos (Filipenses 1:22), mesmo que haja momentos em que não podemos imaginar o fruto, muito menos vê-lo com nossos próprios olhos.

E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos. (Gálatas 6:9 NVI)

‘Resistimos até o ponto de derramar o próprio sangue’? (Hebreus 12:4). Muitos de nós não. Portanto, vamos considerar aqueles que foram antes – especialmente Jesus Cristo – e pensar sobre o que eles passaram antes de sentir pena de nós mesmos. Em vez disso, vamos ‘livrarmo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve’. (Hebreus 12:1)

2. Suportar as dificuldades como disciplina (Hebreus 12:5-12)

‘Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai?’ (Hebreus 12:7 NVI)

Deus usa as dificuldades que enfrentamos para construir em nós as qualidades que precisamos para ser seus discípulos eficazes. A perseverança produz caráter, diz Paulo (Romanos 5:4). ‘Considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança’, diz Tiago. (Tiago 1:2,3 NVI)

Assim como o treinamento afia o atleta e a areia produz uma pérola em uma ostra, Deus usa problemas e dificuldades para moldar e melhorar a gente, para que sejamos mais úteis a ele. Esta é uma marca do seu amor por nós.

Portanto, ‘pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho’. (Hebreus 12:6). Assim como a disciplina de nossos pais é uma marca de seu amor por nós, também quando Deus traz dificuldades para nossas vidas, é com um propósito maior que nos moldemos à sua imagem.

‘Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.’ (Hebreus 12:11 NVI)

Muitas vezes, se formos honestos, nos vemos adotando exatamente a visão oposta e assumindo que Deus não pode nos amar por causa do que Ele nos permitiu passar – mas, na verdade, ele nunca nos prometeu que a vida seria fácil. Antes, Jesus disse a seus discípulos: ‘Neste mundo vocês terão aflições’. (João 16:33 NVI)

Como gostamos de ouvir as ternas palavras de Jesus: ‘Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.’ (Mateus 11:28 NVI). Mas, às vezes, precisamos que ele seja mais duro conosco. Jesus disse algumas coisas inacreditavelmente difíceis aos seus discípulos, que eles tanto precisavam ouvir para o seu próprio bem.

Quando Jeremias estava reclamando com o Senhor sobre o quão difícil as coisas eram para ele como profeta do Senhor, ele recebeu uma advertência salutar:

‘Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir com cavalos? Se você tropeça em terreno seguro, o que fará nos matagais junto ao Jordão?’ (Jeremias 12:5 NVI)

Deus está dizendo efetivamente: ‘Endureça. Se você acha que isso é ruim, como vai lidar com o que está por vir?’

Deus nos disciplina através das dificuldades que enfrentamos, a fim de que ele possa nos usar com mais eficácia no futuro.

‘Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.’ (Hebreus 12:11 NVI)

Portanto, quando enfrentamos dificuldades, uma boa pergunta é: ‘O que Deus está me ensinando sobre isso? Que qualidades ele está construindo em mim quando eu me levanto nessa ocasião?’

3. Faça todos os esforços para viver em paz e ser santo (Hebreus 12:13-17).

Às vezes, podemos ser tentados a resmungar contra Deus quando enfrentamos dificuldades. No livro de Malaquias, Deus acusa seu povo de dizer ‘coisas duras’ contra ele (Malaquias 3:13). ‘Quais são essas coisas duras?’ eles perguntaram. Deus responde que é quando eles dizem: ‘É inútil servir a Deus. O que ganhamos ao cumprir os requisitos dele?’

Quantas vezes somos vítimas disso – desprezando nosso Senhor e Salvador porque não gostamos de nossas circunstâncias pessoais.

Esta parte de Hebreus 12 nos adverte sobre o perigo de usarmos as dificuldades como desculpa para deixarmos de ser sérios sobre nosso discipulado. Esaú é citado como um exemplo preocupante de jogar fora sua herança só porque estava cansado e com fome após um árduo dia de trabalho. (Hebreus 12:16)

Precisamos garantir que não caiamos em amargura, imoralidade sexual ou brigas com outras pessoas por despeito por Deus ou porque pensamos que o que estamos passando dá uma desculpa para esse comportamento.

Viver vidas santas e viver em paz com os outros não é menos nosso dever nos tempos difíceis.

Como Pedro nos lembra, ‘Vivam de maneira santa e piedosa’, enquanto ‘esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda’. (2 Pedro 3:11,12)

Isso é crucial se quisermos recomendar o Evangelho a outras pessoas. Não vamos usar tempos difíceis como uma desculpa para pecar.

4. Lembre-se do que você foi salvo (Hebreus 12:18-24).

O escritor aqui faz um contraste entre a Antiga Aliança feita pelos israelitas no Monte Sinai, e a Nova Aliança selada com o sangue de Cristo no monte da crucificação.

As recompensas prometidas pelos primeiros dependiam da obediência aos mandamentos de Deus (Êxodo 19:5-6) e, portanto, havia avisos, mandamentos e punições por desobediência (Deuteronômio 28:15-68). Mas não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus (Romanos 8:1).

Por outro lado, a Nova Aliança é baseada na graça de Deus – seu favor imerecido para nós através de Jesus pagando o preço por nossos pecados na cruz.

Estamos ansiosos pela ‘Jerusalém celestial’ (Hebreus 12:22) e uma eternidade gloriosa com Deus. Os cristãos muitas vezes esquecem que as recompensas na vida cristã estão quase inteiramente no futuro.

E são as glórias e prazeres do céu que colocam em perspectiva os sofrimentos desta vida.

Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam (1 Coríntios 2:9). À luz da eterna glória que está chegando, nossos problemas na terra, por mais ruins que sejam, são apenas ‘leves e momentâneos’ quando vistos dessa perspectiva (2 Coríntios 4:17).

5. Lembre-se do que você foi salvo (Hebreus 12:25-29).

É preocupante manter nossos problemas em perspectiva contra as alegrias do céu, mas também vê-los contra os horrores do inferno, separação eterna de Deus.

Se Deus fosse simplesmente um Deus de justiça, ele teria eliminado a humanidade no momento em que Adão e Eva pecaram. Mas, felizmente, ele também é um Deus de misericórdia, que adia o julgamento que todos nós merecemos, para que possamos nos arrepender.

Não podemos permanecer em segurança em Sua presença, a menos que estejamos vestidos com a ‘justiça de Cristo’ (2 Coríntios 5:21) porque ‘Deus é um fogo consumidor’. (Hebreus 12:29)

O autor de Hebreus aqui nos lembra o destino das pessoas na época do Êxodo, que deram as costas a Deus.

Quão pior será se o rejeitarmos agora, depois da vinda de Cristo.

A ameaça do coronavírus não é nada comparado a enfrentar Jesus Cristo imperdoável no dia do julgamento, por isso precisamos ser gratos, reverentes e humildes diante dele. (Hebreus 12:28-29)

Conclusão

Você é tentado a temer, se desesperar ou desistir? Considere aqueles que foram antes. Suportar as dificuldades como disciplina. Faça todos os esforços para viver em paz e ser santo. E veja as coisas em uma perspectiva eterna – lembre-se sempre para que você foi salvo e do que foi salvo.

Vamos levar a sério essas cinco chaves da resiliência e perseverança conforme atravessamos as dificuldades atuais. 


Tradução: Médicos de Cristo

Referências

1. https://blogs.icmda.net/author/psaunders/

2. C.S. Lewis, The Problem of Pain.

3. Hebreus 12:2

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